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Analice Nicolau
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Brasileiro Fernando Mariano brilha na Disney Plus e reforça o ativismo LGBTQIAPN+: “A verdade é a nossa arma mais poderosa”

Ator brasileiro radicado na Europa integra o elenco de “O Caso de Jean Charles” e assina campanhas globais de “Star Trek” e “Missão Impossível”, enquanto se reconecta com suas raízes e sua missão de representar com autenticidade.

Analice Nicolau

22/05/2025 18h30

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Na pele de um dos amigos mais próximos de Jean Charles, Fernando Mariano emociona ao dar vida a uma história real que expõe injustiça, dor e humanidade.

Do Paraná para o mundo. Assim começou cedo a trajetória do ator brasileiro Fernando Mariano, aos 10 anos de idade. Vivendo entre Porto, Espanha e Londres nas últimas duas décadas, o artista multifacetado é um dos destaques do elenco da série “O Caso de Jean Charles”, da Disney Plus, que acaba de ser lançada na plataforma de streaming. Na trama baseada em fatos reais, ele interpreta um dos melhores amigos do protagonista, acidentalmente morto pela polícia britânica durante a perseguição a um terrorista. Cria do teatro musical — de Angel, em “Rent”, a Bernardo, em “West Side Story” —, o ator esteve em “A Chorus Line”, ao lado de Antonio Banderas, por cinco anos, e também foi o diretor criativo de publicidade por trás dos últimos lançamentos de grandes franquias, como “Star Trek” e “Missão Impossível”. No momento, Fernando está mesmo é de olho na boa fase que vive o audiovisual brasileiro, proporcionado pelo sucesso mundial de “Ainda Estou Aqui”.

“Eu tenho muita vontade de atuar mais em português — na minha língua materna. Quando atuamos em nossa própria língua, amos nuances que se perdem em outros idiomas. Voltar ao Brasil também é, para mim, um reencontro com o meu “Fernandinho” interior. Cresci e estudei teatro em Portugal, onde sofri pressão para abandonar meu sotaque brasileiro. Era muito jovem — tinha 14 anos. Mudar meu sotaque significou, em muitos aspectos, perder parte da minha identidade. Agora, reencontrar essa parte de mim tem sido um processo bonito e libertador. Voltar ao Brasil me reconecta com minhas raízes e com o porquê de eu ter tanto samba no pé”, diz, empolgado.

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Fernando Mariano construiu uma carreira internacional no teatro, na TV e na publicidade, e hoje é destaque na série da Disney Plus O Caso de Jean Charles.

Fernando teve a oportunidade de entrar para o elenco de “O Caso de Jean Charles” após receber um convite para um teste. “Inicialmente, fiz para o papel de Gesio, mas acabaram me chamando para um perfil físico mais próximo ao meu. E aí fiz outro teste com o diretor, que correu muito bem. Demoraram um pouco a me dar uma posição, cheguei até a pensar que tinham escolhido outro ator para o meu papel. Até que recebi a ligação e chorei de alegria. Me atravessou, era urgente contar essa história com verdade”, afirma ele.

Nesta nova adaptação para o audiovisual da história do brasileiro Jean Charles — a primeira, para o cinema, teve Selton Mello no papel-título —, Fernando incorpora uma síntese de alguns personagens reais próximos ao protagonista. “A série faz uma abordagem diferente. Comecei esmiuçando o roteiro, que era rico em detalhes. Então, ei dois meses em um trabalho intenso de pesquisa e preparação. No processo, me inspirei fortemente no Alex, primo do Jean. Eles emigraram juntos. Antes de irem para Londres, viveram em São Paulo, e essa cumplicidade era fundamental para mim”, conta o ator, que viveu a experiência de conhecer a família de Jean.

“Foi uma conversa profunda, difícil, mas essencial. Todos nós — o elenco que interpreta a família — seremos eternamente gratos por essa abertura. No dia da estreia, recebemos uma mensagem emocionante da família, agradecendo por darmos corpo a uma verdade que precisava ser contada com pureza. Foi o maior presente que poderíamos receber. Um sentimento de missão cumprida”, relembra.

No set, dar corpo e voz a algumas cenas não foi uma tarefa fácil, acrescenta Fernando. “As sequências do reconhecimento do corpo no necrotério e do sepultamento foram exaustivas e delicadas. Tivemos o a muitos relatos reais da família sobre esses momentos e queríamos fazer justiça a essa dor. A perda de um grande amigo meu, Antonio, também esteve muito presente na minha memória nesse período. Revive emoções profundas, especialmente no enterro. Ficamos com os olhos inchados de tanto chorar. Lembro que naquele dia, voltei ao hotel, entrei na banheira e chorei ainda mais”, diz.

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Ativista dos direitos LGBTQIAPN+, Fernando usa sua trajetória para inspirar outras vozes e combater preconceitos com arte e autenticidade.

A condução do diretor Paul Andrew Williams inspirou todo o elenco e foi fundamental no processo. “Profundamente catártico. Ele é um gênio. A união do elenco brasileiro também foi linda — viramos amigos de verdade, viajamos para nos ver, almoçamos juntos sempre que possível”, revela. A questão das fake news também entrou no foco da produção. “É louco como a mídia pode manipular narrativas. Como forças de poder — neste caso, a polícia — podem distorcer os fatos para se protegerem. Isso me marcou profundamente. Hoje, mais do que nunca, precisamos ter senso crítico e investigar as informações que recebemos. A verdade nem sempre vem fácil — às vezes, precisamos cavar muito fundo para encontrá-la”, explica.

Em breve, Fernando também poderá ser visto em mais dois trabalhos. “Recentemente, fiz um curta belíssimo com o diretor espanhol Pablo Saura, pelo qual fui premiado como melhor ator no Festival de Greenwich, em Londres. Também atuei no longa “Zeta”, protagonizado por Marion Casas, dirigido por Daniel de la Torre para a Amazon Prime Video. Gravamos no Rio em dezembro, a estreia será no próximo ano”, entrega.

Paralelamente à carreira de ator, Fernando é ativista dos direitos LGBT. “Curiosamente, tudo começou quando saí da igreja evangélica. Sou filho de pastores, cresci num ambiente extremamente conservador. ei por terapia de conversão. Foi muito duro. Aos 15 anos, não ava mais a dor de não me aceitar. Saí de casa, deixei a igreja, e fui viver a minha vida. Meus pais, com quem fiquei anos sem contato, acabaram voltando para a minha vida. E abandonaram a igreja. Porque entenderam que religião deveria ser sobre amor e não sobre ódio — amar não é pecado. Amar é humano. E o ódio em relação aos LGBT que presenciamos tão vivamente ainda hoje, como por exemplo a tentativa de um atentado em Copacabana no fim de semana do show da Lady Gaga, é o mais distante de qualquer compromisso religioso ou cristão. E a verdade tem sempre que vir à tona, porque a verdade é a nossa arma mais poderosa.”

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