Chegamos à centésima edição desta coluna, e, como psicólogo, fico me perguntando: o que realmente é informação no mundo atual?
Afinal de contas, a realidade inclui um nível subjetivo, formado pelas crenças e sentimentos de várias pessoas. Se fizermos uma análise, cada indivíduo tem uma perspectiva diferente sobre o mundo, moldada pelo cruzamento de suas diversas personalidades e histórias de vida.
Isso nos mostra que, ao criar um conteúdo que descreva a realidade, devemos considerar os diferentes pontos de vista presentes nela. Nós psicólogos, mais que ninguém, sabemos que, mesmo com o maior esforço para representar fielmente a realidade, nunca conseguimos capturá-la por completo.
Ao longo dessas cem publicações, esta coluna buscou se manter fiel à realidade, resistindo às ideologias que atualmente assombram a psicologia. Muitas foram as críticas nos últimos dois anos, principalmente de fanáticos ideológicos, que ingenuamente acreditam estar em posse da verdade absoluta, ou seja, a verdade deles. Eles se proclamam tolerantes, porém condenam à “morte” aqueles contrários aos seus pensamentos e crenças.
Esse adeptos da noção ideológica da informação sempre se remexem inquietos em suas cadeiras ao lerem esta coluna. Para eles, todo e qualquer psicólogo deve rezar sobre o manto social. Esse profissionais culpam o neoliberalismo por tudo, mesmo sem ter noção do que é o objeto da crítica; e exaltam aos quatro cantos uma doutrina marxista redentora, também sem sequer saber quem realmente foi Marx, seus feitos e defeitos.
Muitos desses “apóstolos”da educação freireana sequer conhecem Álvaro Vieira Pinto, mas ensinam a pedagogia do oprimido nas salas de aula de psicologia escolar. Não sou contra Paulo Freire, mas estudo a história. Assim, também conheço a importância de Álvaro Vieira Pinto e de Frank Laubach, e suas influências na vida e obra de Paulo Freire.
Estudar… acredito que essa é a abordagem mais poderosa que um psicólogo pode adotar.

A informação desempenha um papel essencial na vida de qualquer profissional da psicologia. Ela cria novas realidades ao conectar os pontos diferentes de uma rede. Além disso, a informação, quando é uma representação verídica da realidade, também une pessoas. Um bom exemplo deste fato é narrado por Yuval Noah Harari em seu mais novo livro NEXUS. Hariri descreve o momento em que o homem pisou na Lua pela primeira vez. As pessoas, assistindo àquela cena histórica na televisão, compartilharam um mesmo sentimento de orgulho e espanto. Mesmo quem duvida que o homem realmente tenha pisado na Lua não pode negar o impacto da “verdade”.
A representação da realidade tem um papel fundamental na sociedade. Basta relembrar das atrocidades dos campos de concentração e de como Hitler usou o cinema para consolidar sua jornada rumo ao poder. Outro exemplo é a Bíblia, um dos escritos mais influentes da história da humanidade, que molda a vida de milhões de pessoas até hoje.

Entender a informação como um nexo social nos ajuda a compreender a história da humanidade. A informação pode ou não representar a realidade, mas, como bem afirma Yuval (2024), ela conecta indivíduos e, nós, seres humanos, somos muito bons nisso. Infelizmente, essa habilidade, frequentemente, caminha lado a lado com crenças e mentiras, erros e fantasias. Tanto que países como Alemanha e União Soviética no ado foram capazes de abrigar ideias ilusórias, sem que fossem necessariamente enfraquecidas pelo caráter ilusório delas.
Isso no leva a minha maior preocupação. Assim como podemos criar uma marca para um produto, também podemos construir a imagem de um indivíduo. E, nos últimos anos no Brasil, vemos como essas ilusões ideológicas podem ser perigosas.
Até a próxima!