Este é um dos misticismos que precisamos eliminar dos bancos universitários para ensino da psicologia. Primeiro porque a psicologia é uma ciência e não uma militância ideológica, e assim como toda ciência, precisa de métodos e classificações; e segundo que é inerente ao ser humano a necessidade de explicar e nomear aquilo que lhe é desconhecido.
Desde antes de Aristóteles, o homem usa como estratégia científica a classificação, em especial a classificação dos fenômenos que são percebidos pelos nossos sentidos. Da mesma forma, a classificação também é empregada em casos de adoecimento e/ou prejuízo tanto aos indivíduos como às populações.
Em nosso caso específico, a psicologia, falaremos das doenças mentais. Especificamente no século XIX, tivemos uma intensificação no que se refere à classificação dos transtornos mentais, com formulações que até então eram baseadas em descrições de sinais e sintomas e tinham como percussores nomes como Pinel, Griesinger e até mesmo Kriepellin. Não tardamos a criar, entre outros, os famosos: Classificação Internacional de Doenças (CID), atualmente em sua 11ª edição, e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), atualmente em sua 5ª edição revisada.
O fato de tais “tratados” terem nascido na medicina em nada diminuiu ou aumentou sua importância para a psicologia. Infelizmente, ainda temos profissionais que desmerecem tais itens com ideias errôneas e ideológicas acerca da importância de termos instrumentos “métricos” cujo conteúdo e significado são de compreensão mundial, independentemente da língua, credo, cor ou sistema de governo existente no local que aderiu ao CID 11 e DSM 5.
Estes itens de classificação nada têm a ver com um modelo de controle biomédico ou uma intervenção para facilitar a industria farmacêutica. Trata-se apenas de uma forma de comunicação e entendimento mundial, com códigos e estruturas bem definidas com a intenção de padronizar uma linguagem que, por si só, já é bem complexa.
O CID mesmo tem por objetivo final, ao contrário do que muitos profissionais da psicologia podem pensar, a orientação com relação a diagnósticos. Além, é claro, da correta coleta de dados a respeito de causas de mortalidade e doenças espalhadas pelo mundo, criando inclusive um alerta para determinadas epidemias e áreas atingidas e oportunizando, assim, os mais diversos tipos de combate e prevenção.
Já o DSM, criado pela American Psychiatric Association (APA), embora usado por diversos países espalhados pelos cinco continentes, é estadunidense, tendo como base a classificação operacional, ou seja, utiliza um sistema de classificação para médicos e psicólogos no sentido de manter um diálogo técnico e coerente a respeito de seus achados e discordâncias.
Outro ponto que deve ser considerado é que o CID e o DSN, em suas propostas generalistas e pragmáticas, consideram o fator temporal, ou seja, tais instrumentos foram construídos e influenciados por questões relacionadas ao tempo, política, economia e especialmente ao modo filosófico de vida naquele recorte temporal.
Ciúmes à parte, tanto o CID quanto o DSM são excelentes ferramentas para conclusão de diagnósticos quando necessitamos de uma padronização a fim de externarmos nossos achados com as mais diversas áreas profissionais, em especial quando trabalhamos com equipes cujo idioma é diverso e desconhecido.