Errei. Fui moleque. Criei expectativas altas em vez de galinhas e, como de praxe, elas não foram supridas.
Desde a sua abertura, o hype em torno do Gaijin, izakaya que inaugurou há poucos meses na Asa Norte, foi grande. A proposta cosmopolita, o ponto estratégico na quadra do Bitaca da Norte e um Instagram bem convidativo levaram os amantes de comida oriental a buscar o conceito de bar japonês.
Antes de compartilhar minhas impressões, vale destacar que o conceito de bar japonês é bem diferente do de um restaurante japonês. Não é para ir achando que vai ter rodízio de sushi. A ideia é combinar drinks e saquês com petiscos e sanduíches de sabores orientais.
Sigamos, então, começando pelas comidas, que, para mim, foram o ponto alto da casa. O Tonkatsu (bife de copa-lombo empanado na farinha panko, acompanhado de molho e repolho – R$ 32) foi meu favorito. Além de uma porção de ótimo tamanho, estava saboroso, crocante e o molho deu aquele punch de sabor. Uma verdadeira pegada de petisco.

Igualmente delicioso e pedida obrigatória para quem for, o Harumaki de língua de boi (rolinho primavera de língua de boi – 2 unidades, a R$ 26). Até quem não gosta de língua vai se render a esse recheio superequilibrado, que deu ao rolinho uma personalidade marcante.
O Makkufishu, que o bar define como “aquele sanduíche daquela empresa, só que ao estilo Gaijin” (peixe merluza e molho tártaro – R$ 35), é fácil de comer, tem bom custo-benefício e o molho é de lamber os dedos. Esse, sim, poderia ser feito em larga escala no lugar do “original”.

Já o Katsu Sando (sanduíche de porco, cozido no sous-vide e empanado na panko, com coleslaw – R$ 37) me agradou tanto quanto o do Sandô, pelo qual sou apaixonado desde o dia em que conheci. É minha régua para avaliar um bom sanduíche de porco bem feito.
Gostosos, mas nem tanto, o Gyoza de porco (massa recheada com carne de porco e chutney de repolho – 6 unidades, R$ 28) e o Donburi Beef (bowl de gohan, bombom de alcatra, molho roti e gema curada – R$ 42) deixaram a desejar no quesito sal e acabaram ficando bem “flats” perto dos demais pratos. Normalmente, o gyoza é meu “tiro certo” em restaurantes orientais, mas aqui eu precisaria dar outra chance para ver se foi um erro pontual. Já o donburi dependia completamente da gema para dar sabor, o que, na minha visão, o deixou simples demais.
Agora, ando para os pontos que quebraram minha expectativa, vamos à parte externa da casa. A varanda traseira tem quase a mesma ambiência do vizinho, um boteco de comida brasileira – bem bom por sinal -, assim como as mesas e cadeiras. Como as fotos no Instagram exploram bem o espaço interno e o balcão (que eu achei supercharmoso), esperava que o ambiente como um todo tivesse essa mesma pegada. Não rolou.
A carta de drinks clássicos é superfaturada, com Negroni e Fitzgerald a R$ 44 cada, o que considero um exagero. Pedi o Fitz e ele veio muito ácido, desequilibrado. A demora no preparo, quando ainda havia apenas uma mesa além da nossa, também me chamou a atenção. Não faz jus, nem de longe, ao que é cobrado.
Mas o ponto mais baixo foi, sem dúvida, o atendimento. Fiquei impressionado como uma mão erguida e balançando, minutos a fio, em busca de atenção da garçonete, pôde ar tão despercebida em um espaço tão pequeno, por mais de uma vez.
No início da noite, havia, sim, um cuidado maior com a parte externa, devido ao movimento baixo, mas logo que a casa se encheu, virou desafio fazer pedidos. E, novamente, voltamos à questão do superfaturamento da carta de drinks. Ser bar significa que as pessoas vão, certamente, beber mais que dois drinques. Fiquei nada feliz em pagar mais de R$ 100 em bebidas para sentar em mesas simples de boteco, com uma luz branca de farmácia, e ainda ter de “mendigar” atenção ao serviço. Preço alto também eleva as expectativas quanto à experiência completa do cliente. Infelizmente, na minha noite de estreia no Gaijin, a segunda parte ficou devendo.
Voltaria para ter uma segunda impressão, agora sem o hype na cabeça e com expectativas mais modestas, pela comida. Petiscos e uma garrafa de saquê, talvez, seja a melhor pedida por lá.