Nos últimos tempos, novas expressões têm surgido para descrever o conjunto de situações sociais que envolvem o público mais maduro, especialmente os 50+. Nessa fase da vida, as pessoas se sentem ainda jovens, mas começam a perceber que o tempo é precioso e buscam evitar situações que não agregam qualidade à sua experiência e sabedoria.
A Economia Prateada refere-se ao conjunto de produtos, serviços e inovações voltados para atender às necessidades e desejos dessa faixa etária. O nome “prateada” faz alusão aos cabelos grisalhos, símbolo dos 50+. Esse conceito abrange desde o mercado de consumo até as políticas públicas, saúde, lazer e planejamento financeiro, levando em consideração o envelhecimento da população como uma realidade global. Afinal, viver muito custa caro, como mencionei recentemente em um podcast com um especialista em BPO financeiro.
O termo, criado por especialistas discutindo como planejar negócios futuros a partir de conceitos emergentes, traz à tona a ideia de espaços mais confortáveis, produtos ergonômicos, seguros e de fácil uso, além de formas de viver a maturidade com saúde e independência. A transformação social e econômica provocada pelo envelhecimento da população já está em andamento. Segundo as projeções do IBGE, até 2050, mais de 30% dos brasileiros terão 60 anos ou mais, o que implica em uma demanda crescente por produtos e serviços voltados para esse público. Esse fenômeno não se limita à indústria de saúde, mas também afeta setores como moda, beleza, saúde preventiva, tecnologia, turismo, moradia e educação continuada.
A ideia de aposentadoria precoce está se tornando cada vez mais obsoleta. Nossa geração está se preparando para trabalhar até, pelo menos, os 75 anos. Somos pais e mães mais tarde, precisamos sustentar nossos filhos por mais tempo e o mercado de trabalho está mais competitivo, fazendo com que as pessoas demorem mais para encontrar boas oportunidades. Além disso, muitos de nós queremos nos manter ativos e realizar aquilo de que gostamos. Muitos também optam por mudar de carreira após anos em uma única área. A vida longa exige reinvenções constantes e essas mudanças, de certa forma, nos rejuvenescem.
Eu mesma me formei em fisioterapia no ano 2000, construí uma carreira sólida na gerontologia e, com a chegada da pandemia, após 20 anos na área, decidi inovar. Abri uma empresa de consultoria sobre envelhecimento e maturidade, fui aprimorando minha presença nas redes sociais e conquistei meu espaço no mercado de palestras e consultorias. Validando um diploma antigo que não constava no meu currículo, ei a atuar com ergonomia doméstica, design universal, aging in place e ibilidade, atendendo principalmente arquitetos e designers de interiores, além de fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.
As pessoas costumam me perguntar se deixei de ser fisioterapeuta. A resposta é não, nunca deixarei de ser apaixonada por reabilitar pessoas. Apenas direcionei minha experiência para outro campo de atuação. Como Le Corbusier já disse, nossa casa é uma máquina de morar. Por isso, adaptar o lar às necessidades do morador, de forma a promover funcionalidade, bem-estar e independência, é um autocuidado cada vez mais buscado por todos. E não é à toa: os acidentes domésticos representam uma grande causa de óbitos e incapacidades em pessoas 60+, além de outros públicos vulneráveis, como crianças e pessoas com deficiência. O mercado de design já reconhece isso, mas ainda precisa se especializar tecnicamente para atender a essas demandas.
O futuro prateado
Eu já sou parte do “futuro prateado”. O que queremos, meus amigos e eu, é envelhecer de forma mais saudável e feliz do que nossos pais e avós, com uma aparência mais jovem e mais satisfação com a vida. A ideia de esperar a morte no sofá ficou no ado. Temos amigas que, após se divorciarem, casaram novamente e estão em busca de novos filhos. As famílias, mais fluidas hoje, refletem a independência crescente, diferente do modelo de antigamente, onde os casais tinham muitos filhos e a vida girava em torno de propriedades ou negócios familiares.
Um exemplo claro dessa transformação social é o “divórcio prateado”, tendência crescente entre pessoas mais velhas que priorizam sua felicidade e bem-estar, mesmo que isso signifique deixar relações que já não fazem sentido. Essa mudança gerou novas oportunidades para os mercados imobiliário, de turismo e entretenimento, com esses indivíduos buscando novas experiências e investindo na própria qualidade de vida. Muitos formam grupos de amigos para compartilhar essas vivências em restaurantes, esportes ou viagens. E muitos estão em busca de um lar definitivo, adaptado para as necessidades futuras.
A pandemia também teve um papel acelerador. A busca por imóveis térreos, com maior contato com a natureza e menor risco de acidentes, aumentou. Além disso, os imóveis integrados, com ambientes abertos, também se tornaram populares. O design biofílico, que integra ambientes internos e externos, virou tendência na arquitetura, refletindo uma nova necessidade de bem-estar, especialmente para quem ou a trabalhar em casa.
As pessoas se tornaram mais minimalistas, principalmente em tempos de crise financeira, e buscaram produtos fáceis de usar, dispensando serviços domésticos. Quando compram equipamentos para casa, como máquinas de lavar ou fogões, preferem aqueles que garantem durabilidade, qualidade e facilidade de uso. Ninguém mais quer perder tempo lendo manuais complexos de instrução.
Empresas e a Economia Prateada
As empresas precisam se adaptar a essa realidade. Produtos e espaços precisam ser ergonômicos, íveis e promover a saúde, não apenas a beleza. A experiência de compra também deve ser diferenciada, pois os consumidores maduros valorizam marcas que atendem às suas expectativas e oferecem um atendimento acolhedor. Ao contrário dos mais jovens, que tendem a ser mais volúveis, os 50+ são leais às marcas que conquistam sua confiança.
Com 47 anos, adoro estudar e sou muito ativa, mas não perco tempo escolhendo pousadas pela internet. Prefiro ir à fonte, conversar com boas agências de viagens que sabem exatamente o que busco. Só uso redes sociais de negócios depois de já estar praticamente decidida, apenas para confirmar ou comparar opções. E, se gosto, indico e compartilho minha experiência.
Mudança de comportamento e desafios
Hoje, não compro mais sapatos pela beleza. O conforto e a ergonomia são minhas prioridades. Se um salto machucar meus pés, ele logo desaparece do meu guarda-roupa. E, se eu quiser um salto, ele será de boa qualidade, feito com bons materiais, elegante e confortável o suficiente para ar uma festa inteira.
Criar espaços e produtos que atendam às necessidades da maturidade exige conhecimento técnico, sensibilidade e visão estratégica. O objetivo não é apenas atender, mas encantar o consumidor prateado, garantindo experiências enriquecedoras. E, sim, esse público consome de tudo!
Se você tem um negócio, saiba que até 30% dos seus clientes serão idosos em boas condições de vida, se o seu produto for voltado a um público com o à saúde e educação. A Economia Prateada não é o futuro, ela já é o presente. Empresas que souberem se adaptar terão um público fiel e engajado. Afinal, se for bom, o consumidor prateado fica, recomenda e valoriza!