Quem se lembra que os canarinhos, há muito tempo, aram por isso? – há seis décadas. No dia 17 de junho de 1962, a Seleção Brasileira sagrava-se bicampeã mundial de futebol, no Chile. Uma história que não saía das lembranças de um dos heróis daquela conquista, o lateral-esquerdo Nílton Santos, do Botafogo.
Contava ele: “O bi começou a ser ganho no lance em que eu fiz pênalti no jogo contra a Espanha, na primeira fase do Mundial. No lance, estiquei uma ada pra cima da linha, e o árbitro, que estava distante, assinalou falta fora da área. Os espanhóis venciam, por 1 x 0. Se abrissem dois gols de vantagem…”, indagava-se ele, que residiu, por bom tempo, em Brasília, como professor das escolinhas de futebol do GDF – e me contou esta história.
Para o “Enciclopédia do Futebol” (seu apelido), no entanto, a sua jogada de mestre rolara mesmo (no vestiário) quando ele trocava de roupa: “Escutei o Didi dizendo: ‘Vou mostrar àquele ‘FDP’ (referia-se a Di Stefano, ex-colega de Real Madrid e a quem acusava de tê-lo boicotado no time espanhol) que eu sei jogar bola. Imediatamente, o repreendi, dizendo-lhe que parasse com aquelas “frescuras” (gíria da época), porque de nada adiantaria ele jogar bonito e o nosso time perder. Em campo, quando ele errava um e, eu o xingava e ele me pedia calma. Por sorte, o Didi ‘pensava alto’ (gíria para murmurar) e eu mexia com os seus brios”, narrou.
Para a Copa do Mundo de 1962, a Seleção Brasileira viajara sendo, praticamente, a mesma que havia sido campeã na Suécia-1958. Segundo Nílton Santos, durante a apresentação dos convocados, o que mais o marcara fora a forma como os atletas se olhavam: “Estava escrito em nossos olhos que a nossa responsabilidade seria maior do que em 1958, porque éramos os campeões mundiais”, explicou.
A estreia do escrete nacional no Mundial Chile-62 foi – 30.05.1962 – Brasil 2 x 0 México. Nílton Santos dizia não se envergonhar de confessar que os primeiros 10 minutos do prélio foram de nervosismo canarinho. E comemorava: “O Zagallo (ponta-esquerda), que não era um goleador, marcou (abriu o placar) na hora certa! (56 minutos)”, exclamou – Pelé fez o outro gol, aos 72.
Sobre o segundo jogo – 02.06.1962 – Brasil 0 x 0 Tchecoeslováquia – Nílton imputava o empate à retranca do adversário: “Eles não avam do meio do campo. Nos faltavam espaços para trabalhar”.
Para o terceiro prélio – 06.06.-1962 – Brasil 2 x 1 Espanha, quando o médico da equipe, Hílton Gosling, contou-lhe que o contundido Pelé não teria condições de jogo, Nílton Santos chamou para si a responsabilidade de preparar o substituto – Amarildo – para a missão: “Lembrei-lhe de que ele fora convocado para fazer na Seleção (Brasileira) o que fazia no Botafogo. Nada mais”, fora enfático – e o cara fez os dois gols da virada sobre a “Fúria” (apelido da seleção espanhola).
O quarto compromisso – 10.06.1962 – Brasil 3 x 1 Inglaterra – teve Garrincha marcando gol cobrando falta e cabeceando. No segundo caso, algo anormal para o ponta-direita. Extra-jogo, Nílton Santos lembrava e sorria: “Entrou um cachorro no gramado – do Estádio Susalito, em Viña del Mar – durante a partida, e o Mané (Garrincha) resolveu caçá-lo. Depois do apito final, falei-lhe: ‘Compadre, você acabou com eles’. E ele respondeu-me: “Cachorro danado. Que trabalho me deu!’. Eu falava dos ingleses e ele do cãozinho”.
Na semifinal – 12.06.1962 – Brasil 4 x 2 Chile – Garrincha (cansado de apanhar) foi expulso de campo, por mandar um chute no traseiro de um adversário. Mas os cartolas brasileiros deram um jeito e o “Torto” disputou a final – 17.06.1962 – Brasil 3 x 1 Tchecoeslováquia -, ajudando os canarinhos na virada do placar que valeu o bi. “O compadre era assim. Não era bobo, não!, garantia.