Menu
Histórias da Bola
Histórias da Bola

O APARADOR DA JUBA DO LEÃO

Flamenguista convicto torceu muito pelo vascaíno Vavá

Gustavo Mariani

13/04/2025 11h07

orlandovavá

Vavá

Imagine um flamenguista duro de aturar torcendo por um vascaíno. Impossível! Mas esta coluna encontrou uma história dessa traição.

 O caso começa em 1955, quando Edvaldo Izídio Neto, o Vavá, um pernambucano com fama de ser o maior cabra macho da pequena área em Pernambuco, desembarcou no Rio de Janeiro, dizendo, com aquele seu sotaque arretado de nordestino, que ainda faria o Cristo Redentor fechar os braços para lhe aplaudir.

“Com certeza, o pau-de-arara que trouxe este cabra da peste lá de sua terra ainda não entrou nem na Avenida Brasil”, disse um barbeiro carioca ao colega do Seu Jonas, também pernambucano, mas flamenguista, de ir ao Maracanã e assistir o jogo olhando só para o lado que o seu time atacava.

Jonas, então com seus 22 anos, sonhando com o sucesso no Sul Maravilha,

não dava a mínima para a manchete dos jornais,  informando

que o Vasco trouxera um “Leão do Norte” para desbancar Dida, o grande ídolo e artilheiro do Flamengo. E muito menos defendia a  “terra”

quando o colega carioca prosseguia na gozação”: “Este cara pode ser bom

lá no Sport Recife, onde quem lhe marca é o Zé de Dona Maria; o

Joaquim do Seu Pedro; o Antóim de Seu Chico, cabras assim. Quero ver é

aqui no “Maraca”, onde tem beque que sabe pentear a maricota“ . 

No dia seguinte |àquele papo, ou corte de cabelo de Vavá foi apelidado p or “Xaxado, xaxado  chato”. Pra entrar na onda carioca, depois do treino, ele pegou uma carona para casa e entrou na primeira barbearia que encontrou pela frente.

“Eu tava com o jornal nas mãos, lendo a notícia sobre o conterrâneo que

havia chegado ao Vasco, com muita propaganda de que iria botar o Dida

no chinelo, quando ele entrou no salão. Ficamos parados, olhando-o,

curiosos, sem dizer uma palavra. Então, tomei a iniciativa, me apresentei

como seu conterrâneo e ele sentou-se na minha cadeira. O tratei com

civilidade, mas exerci o meu glorioso mandato de flamenguista”,

relembra Seu Jonas.

 Engraçado foi que, enquanto o barbeiro carioca falador ficava calado,

Seu Jonas, que até então só o ouvia, brincava com Vavá:

 – Conterrâneo! Você era rubro-negro lá terrinha (o Sport Recife é vermelho e preto),  mas agora tá do outro lado.

– Mas você vai torcer por mim, conterrâneo – respondia o novo vascaíno.

 – Nem que a vaca tussa, conterra – assegurava Seu Jonas.

 – Pois conto contigo – desejava o artilheiro.

– E eu conto com Dequinha, Jadir e Pavão. Olhe, como conterrâneo,

vou lhe dar cabo (avisar). Tome tino (cuidado) com o Pavão. Senão, eu

perco o freguês. Ele é quem vai lhe fazer cabelo, bigode e barba, no

bico da chuteira. Cabra arretado tá´li – avisou Seu Jonas.

 Daquele dia em diante, ele tornou-se o cabelereiro oficial de

Vavá. De sua parte, tímido pernambucano recém-chegado no Vasco,

pouco a pouco, o artilheiro foi confirmando a sua fama de “matador

cabra macho”.  Quando menos viu, Seu Jonas já era um

flamenguista meio-infiel, torcendo por Vavá.

– Mas não era tão traidor assim, não. Eu torcida só por Vavá, porque

era meu conterrâneo, gente boa, meu freguês e ainda me dava um troco

pra eu ir vê-lo jogar. Na semana de Vasco x Flamengo, ele ava lá barbearia para me levar a grana da entrada (no estádio) , só pra me sacanear. Dizia que iria dar um chapéu em Pavão, fazer o gol e correr pra geral, pra me ver lá, comemorando. Eu tirava a forra, retrucando: E eu vou ver Pavão lustrando a medalhinha de Nossa Senhora que você vai usar durante a partida. 

 O tempo ou, Vavá fez muitos gols, foi campeão da Copa

de 1958, na Suécia, e Seu Jonas mudou de barbearia. Foi trabalhar no

centro do Rio. Antes de trocar o Vasco pelo Atlético de Madrid, o

goleador encontrou-se com o velho amigo no novo endereço. Depois

disso, nunca mais se viram, pois em 1961, Seu Jonas veio para Brasília. Em 62,

durante a Copa do Chile, ele ficava de ouvido colado no radinho de

pilha, escutando Waldir Amaral  (locutor da Rádio Globo do Rio e o

mais famoso do Brasil na época) gritar: “Gooooollll de Vavá, O Leão

da Copa!”.   

 ado aquele tempo, Seu Jonas só viu um jogador com as características de Vavá: Luizão, do Corinthians. Mas fazia questão de ressaltar: “Sou flamenguista – para  não cometer mais nenhuma infidelidade “torcidária”.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado