Vejam essa de James Joyce:
“Segredos, sílices silentes, repousam nos palácios escuros de ambos os nossos corações: segredos exaustos de sua tirania; tiranos desejosos de se ver destronados”!
Sílice é sílex, um pedaço de quartzo! O resto dá para entender. Fiquei matutando a respeito dessa frase de Stephen Dedalus – está em Ulisses, obra prima de Joyce. É tão bonita, tão cheia de revelações, e diz tanta coisa, que nos confunde.
A vida é uma batalha diária. A luta não é somente pela sobrevivência, com as pessoas que nos rodeiam, com o Estado e seus absurdos, com o clima e o planeta, com a ética, a fé ou a moral. A briga é também conosco, com nosso orgulho, ambição, luxúria, desprezo, amor, ódio. São os nossos “segredos silentes”, os tiranos de Joyce, que reinam e pactuam nossa relação com o mundo e com os outros, e que, de certa maneira, formatam a sociedade em que vivemos.
O tempo a e não percebemos. Três ou quatro décadas transcorrem tão rapidamente que não nos damos conta. De repente parece que chega uma hora de prestar contas com o ado. Olhamos para trás e uma sensação de desamparo parece nos atingir. “Que fiz da minha juventude? Cadê os sonhos que eu sonhei para mim? O que estudei, fiz, construí, era isso mesmo que eu queria?” Afinal, o emprego sólido, a carreira profissional, a família, tudo aquilo que disseram ser verdadeiro e de futuro foi feito. Então, por que estamos cada vez mais tão sozinhos, e separados? E os que não seguiram o script? Que foram dilacerados por perdas, doenças, tragédias pessoais, drogas, guerras, intolerância, irresponsabilidade e devaneios de juventude? Ah, a juventude… lembro de Shakespeare, que diz: “quanto mais se gasta a juventude, tanto mais ela se dissipa.”
Essas perguntas precisam ser feitas, porque mudanças estão acontecendo a uma velocidade difícil de ser acompanhada. E que caminho que o mundo tomou! As famílias têm sofrido muito diante das dificuldades da vida moderna! Não conseguem mais ser uma família, porque a tecnologia, o mundo digital transformou seus filhos em robôs, escravos dos smartphones e computadores. Os pais querem proteger os filhos que, engolidos pela solidão do mundo virtual, muitas vezes se mutilam, profanando seus corpos, registrando suas dores com massacres cosméticos, doentios. A desgraça foi construída por muitos que dizem lutar pela felicidade e os direitos de cada um de nós!
Sim, é a política que teima em inventar um futuro, que assusta e que destrói a ordem vigente. Como se a ordem fosse leviana. Tudo isso está acontecendo com o Brasil, nossa nação, que foi tomada por um bando de perversos enlouquecidos comandados por um capitão que vive num estado mental caótico, provocando a destruição do presente e do futuro do país. Estamos sendo governados por um tirano que vai tentar um golpe. E isso nós não podemos permitir. Jair Bolsonaro precisa ser defenestrado nestas eleições. O Brasil não merece perecer sob o desgoverno desse louco doentio. Não podemos aceitar o destino trágico que Bolsonaro traçou para nós. Não, não podemos aceitar isso.
A verdade tem sido distorcida diariamente. Como se não existissem fatos, a verdade de fato. Em meio a essa tempestade de mediocridade, de burrice, de perversidade, de pobreza moral e espiritual, há um consolo e uma tarefa a ser cumprida: “Nosso dever é compor nosso caráter: não é vencer batalhas… Mas conquistar ordem e tranquilidade em nossa conduta. Nossa grande e gloriosa obra-prima é viver adequadamente… Onde não houver homens procurem comportar-se como um”, disse Montaigne. Portanto, nós, brasileiros corajosos, temos o dever de nos cercarmos de homens honrados e, assim, derrotar Bolsonaro nestas eleições. Pois Bolsonaro é um tirano que precisa ser destronado!
Sei que não foi isso que Joyce quis dizer com seus “tiranos silentes”, mas era sobre isso que eu queria escrever!