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Falar certo vai além de escolher as melhores palavras

Discurso do presidente Lula de alinhamento com a Venezuela pegou mal entre outros chefes de Estado. Palavras foram mal ditas ou tudo foi de propósito?

Luana Tachiki

06/06/2023 11h22

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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Falar certo não é apenas escolher as melhoras palavras. É necessário também definir o momento ideal e o público adequado.

Escolher o que vamos falar, pra quem dizer e quando vamos nos posicionar numa reunião, palestra, coletiva, entrevista ou apresentação é crucial para sermos assertivos em nossa comunicação. Não basta dizer o que pensamos, sair verbalizando de maneira descontrolada. As palavras têm propósito e devem ir além dos nossos objetivos particulares ao serem proferidas. Para persuadir um público, é necessário ser assertivo e estratégico se quisermos um discurso bem sucedido.

No último dia 29 de maio, o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou que Nicolás Maduro, seu homônimo da Venezuela, precisava “construir sua própria narrativa”. No dia seguinte, Lula voltou a dizer que há uma situação criada contra o país vizinho. “Se eu quiser vencer uma batalha, eu preciso construir uma narrativa para destruir o meu potencial inimigo. Você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela, de antidemocracia e do autoritarismo”, disse à ocasião, em reunião com Maduro no Palácio do Planalto.

“Eu vou a lugares em que as pessoas nem sabem onde fica a Venezuela, mas sabem que a Venezuela tem problema na democracia. É preciso que você construa a sua narrativa, e eu acho que, por tudo que conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que a que eles têm contado contra você”, prosseguiu o petista.

Estes discursos geraram repercussões negativas internacionalmente. O subsecretário de Assuntos do Hemisfério Ocidental dos Estados Unidos, Brian Nichols, disse que a fala de Lula sobre Maduro vai contra relatórios internacionais. “Nós não podemos ver esses temas como relativos ou dignos de narrativas, são absolutos. Vamos ter um debate sobre políticas e sanções, sobre como prover diálogo, mas temos que identificar as coisas como são”, relatou o representante dos EUA.

O presidente do Chile, Gabriel Boric, criticou as declarações de Lula. “Não é uma construção narrativa, é uma realidade, é séria”, declarou Boric. Já o chefe de Estado do Uruguai, Luiz Alberto Lacalle Pou, se disse “surpreso” com a declaração do brasileiro, uma vez que Nicolás Maduro comanda um regime “autocrático e sem garantias de liberdades fundamentais”.

Boric, político de esquerda, foi um dos que criticou a fala de Lula. Foto: Evaristo Sá/AFP

Em suma, Lula trouxe, a princípio, um discurso caloroso de boas vindas para estreitar seu relacionamento com Maduro, mas não dimensionou a repercussão daquilo. E não houve uma tática para amortecer e contornar o que foi dito. Pelo contrário, o presidente manteve suas palavras no dia seguinte.

A questão é: qual a verdadeira intenção de nutrir um discurso como este? Foi estratégico ou houve descuido? A repercussão negativa sinaliza que as declarações poderiam ter sido evitadas ou era esta a reação esperada?

A partir daí, trago dicas para ser assertivo na comunicação:

  • Atenção ao público-alvo;
  • Momento oportuno: nem antes, nem depois;
  • Sem ambiguidade, para não correr o risco de gerar várias interpretações;
  • Atenção ao tom de voz, que pode mudar o rumo do discurso.
  • Metáforas e analogias são imprescindíveis quando bem utilizadas;
  • Saiba exatamente o que é a sua mensagem e o porquê dela.

Vale a pena trazer um discurso que vá gerar repercussão negativa? Cuidado, pois tudo que disser poderá ser usado contra você.

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