Leonardo Resende
Especial para o Jornal de Brasília
São poucos os diretores que conseguem reproduzir as sensações nostálgicas de ser uma criança. Estúdios de animação gringo, como a Pixar, por exemplo, conseguem fazer isso com uma singularidade impressionante. Mas ainda é raro ver isso no circuito de cinema brasileiro. O brasiliense Alex Vidigal, de O Filho do Vizinho, é um exemplo tupiniquim. Além da temática infantil, o curta-metragem conseguiu retratar a inclusão social.
Entretanto, na penúltima tarde da 20ª edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, o goiano Thoti Cardoso atingiu esse pico criativo na telona do FICA ao apresentar uma produção repleta de nostalgia espontânea com o curta-metragem A Câmera de João.
Contado na perspectiva de um menino de 10 anos chamado João, o título mostra a relação do menino com o seu avô, um ex-fotógrafo aposentado. Em meio a tantas lembranças de sua juventude, o neto tenta recriá-las andando pelas ruas de Goiânia com uma máquina polaroid.
Alegoricamente, o diretor consegue enxergar em João um meio de canalizar suas experiências como indivíduo criativo. “Quando comecei a pensar no que é um filme, eu levei muito de mim para o curta-metragem, ou seja, do que é meu, são as traduções mais simples do pessoal”, explica Thoti, que começou a produção do filme em seu segundo ano de faculdade.
“Não vou fazer pesquisa onde eu não tenho o, vou investigar o que tem dentro da minha casa”, complementa o diretor sobre o desenvolvimento de narrativa adotada.
Repertório criativo
Simetricamente, João corre pelas ruas de Goiânia, mais especificamente, no Bairro de Campinas, em um enquadramento que deixaria o cineasta americano Wes Anderson orgulhoso. No que se entende como narrativa, o goiano adotou a iraniana – mesmo que de forma espontânea. “Nunca tinha assistido nada do Abbas Kiarostami, mas a partir do momento em que conferi Onde Fica a Casa do Meu Amigo, todo o meu filme fez sentido”, revela.
Animação provocativa
Para encerrar o penúltimo dia da mostra competitiva do FICA 2018, a impressionante animação Plantae, de Guilherme Gehr, arrancou a atenção de crianças tanto pelo tema extremamente relevante quanto pela animação 2D, cheia de vida.
O curta-metragem carioca mostra a reflexão de um madeireiro ao cortar uma grande árvore dentro de uma floresta. Mesmo com tantas cores, o diretor conseguiu deslumbrar quem estava no cinema com tamanho talento.
O repórter viajou a convite da produção do festival