Assisti ao filme “Divertida Mente 2”, sequência do aclamado filme de animação da Pixar. Esta nova edição continua a explorar o fascinante mundo interno das emoções e como elas influenciam o comportamento humano.
No filme, a emoções são encarnadas por personagens antropomorfizados, como Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojinho. Enquanto a narrativa cativante e a animação colorida atraem espectadores de todas as idades, a representação das emoções e sua interação com a memória e o comportamento
fornecem uma rica oportunidade para análise sob a lente da neuropsicologia.
Como neuropsicólogo, uma das minhas áreas de estudo é a relação entre o cérebro e o comportamento, focando na compreensão de como diferentes áreas cerebrais contribuem para funções cognitivas e emocionais. Em “Divertida Mente 2”, vemos a personificação de emoções primárias, reguladas por estruturas cerebrais específicas.

Emoções e Seus Correlatos Cerebrais
Alegria e o Sistema de Recompensa
Alegria pode estar associada ao sistema de recompensa do cérebro, particularmente ao núcleo accumbens e à liberação de dopamina, essenciais para a sensação de prazer e bem-estar. Assim como no primeiro filme, a Alegria é quem dá o tom necessário ao equilíbrio da personagem que vive todas as emoções da puberdade.
Tristeza e o Sistema Límbico
A personagem Tristeza pode ser relacionada à atividade no sistema límbico, especialmente na amígdala e no hipocampo, que estão envolvidos no processamento de emoções negativas e na formação de memórias emocionais.
Medo e a Amígdala
Medo representa a resposta de luta ou fuga mediada pela amígdala, uma estrutura chave no processamento/reconhecimento de ameaças e na ativação de respostas de sobrevivência. A sequência destaca a relação entre medo e ansiedade, ilustrando momentos interessantes de iração – nutrida pelo medo em relação à ansiedade – e pânico.
Raiva e o Controle Inibitório
Raiva pode estar associada ao córtex pré-frontal e à sua função de controle inibitório, ajudando a regular impulsos agressivos e a manter comportamentos socialmente aceitáveis. No filme, a raiva é retratada mais como “impulso” para determinadas ações que como violência, como muitos acabam confundindo.
Nojinho e a Ínsula
Nojinho pode ser relacionada à ínsula, uma área envolvida no processamento de emoções aversivas e no reconhecimento de estímulos desagradáveis ou perigosos.
Memórias e Emoções
“Divertida Mente 2” também explora como as emoções afetam a formação e a recuperação de memórias. Na neuropsicologia, é bem estabelecido que emoções intensas podem fortalecer memórias, um fenômeno mediado pela interação entre a amígdala e o hipocampo. Memórias emocionalmente carregadas são frequentemente mais vívidas e duradouras, uma ideia ilustrada no filme pela criação e preservação das “memórias centrais”.

Mas a grande estrela dessa edição é a introdução da ANSIEDADE, especialmente em uma cena onde a protagonista sofre um ataque de pânico. Com isso, a animação aborda com primor o desenvolvimento emocional durante a adolescência, um período de significativas mudanças neurobiológicas.
Durante a adolescência, o cérebro a por uma intensa remodelação, com a poda sináptica e a mielinização contribuindo para a maturação das funções executivas e a regulação emocional. “Divertida Mente 2” serve como uma metáfora para a plasticidade neural, mostrando como experiências e emoções continuam a moldar o cérebro em desenvolvimento.
O filme oferece uma representação ível e visualmente atraente de conceitos neuropsicológicos complexos. A personificação das emoções e sua interação com a memória e o comportamento refletem a dinâmica das funções cerebrais envolvidas no processamento emocional. Além disso, a animação aborda uma série de questões que levam muitos jovens aos consultórios de psicólogos e psiquiatras, ilustrando a complexa relação entre cérebro, emoção e comportamento e abrindo espaço, em especial, para a abordagem terapêutica cognitivo-comportamental se apresentar ao público em geral.
Vale a pena assistir. Até a próxima!