Por Afonso Ventania
Bikerrepórter (Enviado especial a Leipzig)
Com congestionamentos diários, transporte público ineficiente e um sistema cicloviário sem continuidade, Brasília enfrenta desafios cada vez maiores na mobilidade urbana. A capital federal, projetada originalmente para carros, sofre hoje com os impactos de uma dependência excessiva do transporte individual. Mas experiências recentes em cidades da América do Norte e da Europa podem inspirar soluções viáveis para um futuro mais sustentável e ível.
Em workshop no Forum Internacional de Transportes (ITF, sigla em ingles), em Leipzig, na Alemanha, nesta quarta-feira (22/5), a Uber e a Behavioural Insights Team (BIT) apresentaram um estudo no qual desafiarm 173 proprietários de veículos em sete cidades dos Estados Unidos e Canadá a abrirem mão de seus carros por quatro semanas. Em troca, os participantes receberam créditos para utilizar transporte público, bicicletas e carros compartilhados, além de incentivo à mobilidade ativa — como caminhar ou pedalar.
O estudo, reunido no relatório One Less Car, mostrou que é possível substituir o carro particular por uma combinação eficiente de modais — e que isso pode trazer impactos positivos para a saúde, o bem-estar e o senso de comunidade. Por outro lado, a pesquisa também identificou barreiras importantes, como limitações de infraestrutura, resistência cultural e políticas públicas mal estruturadas.
Esses obstáculos não são novidade para os brasilienses. A cidade convive com um sistema de transporte coletivo frequentemente criticado por atrasos, superlotação e falta de integração entre ônibus e metrô. Além disso, embora Brasília conte com uma extensa malha cicloviária em números, muitos trechos são desconectados, mal sinalizados e inseguros, o que desestimula seu uso diário.
Leipzig: transporte sustentável e integrado
Ao longo do , especialistas internacionais compartilharam experiências que podem servir de referência para a capital brasileira. Andrea San Gil-León, diretora executiva da Global Network pelo Transporte Público, ressaltou que a solução não está apenas em tirar as pessoas dos carros, mas em oferecer alternativas reais. “Em países em desenvolvimento, já existem redes informais de compartilhamento de veículos. O poder público precisa apoiar essas iniciativas e expandir de forma eficaz a oferta de transporte coletivo”, afirmou.
Leipzig, na Alemanha, sede do ITF, foi apontada como um dos modelos mais bem-sucedidos. A cidade oferece uma mobilidade diversificada: além de carros, ônibus e trens, há bicicletas compartilhadas, patinetes elétricos, táxis e carros por aplicativos. “Aqui, os moradores contam com um sistema de transporte completo, com modais confiáveis, valores justos e presença em toda a cidade. Nós também encorajamos os moradores a fazerem integração multimodal”, explicou Tobias David, conselheiro da prefeitura local.
Todos os participantes do convergiram em um ponto essencial: para que mudanças significativas aconteçam, é preciso vontade política e uma forte parceria entre o poder público e o setor privado.
As estatísticas comprovam que Leipzig tem adotado a estratégia certa. Em 2001, havia cerca de 216 mil carros circulando na cidade. Em 2024, esse número subiu para aproximadamente 275 mil — um crescimento modesto, especialmente diante de uma população que ultraa os 640 mil habitantes. A meta da prefeitura até 2030 é ousada: fazer com que 70% da mobilidade urbana seja realizada por meios sustentáveis, reduzindo ainda mais a presença de carros nas vias.
Brasília vai na contramão
O contraste com Brasília é alarmante. Em 2002, o Distrito Federal possuía cerca de 585 mil veículos para pouco mais de 2 milhões de habitantes. Em 2024, a frota ultraou os 2 milhões de veículos motorizados, enquanto a população cresceu para aproximadamente 3 milhões.
O salto é significativo e faz da capital federal uma das cidades mais motorizadas do país. Apesar disso, o governo local tem se mostrado incapaz de promover mudanças estruturais na mesma velocidade em que os problemas crescem. As políticas públicas de trânsito e transporte ainda carecem de planejamento estratégico, investimentos consistentes e visão de longo prazo.
Futuro com menos carros e mais qualidade de vida
A experiência internacional indica que, para cidades como Brasília avançarem rumo a um futuro mais humano e menos congestionado, é necessário mais do que boas intenções. É preciso investir em infraestrutura intermodal, criar incentivos reais à mobilidade compartilhada e transformar a cultura urbana.
Enquanto o trânsito segue parando a capital federal, o mundo apresenta estratégias reais e soluções que poderiam ser seguidas pelos gestores locais. Enquanto países investem em tecnologia e planejamento para aumentar o fluxo no transito e a segurança viária, o DF parou no tempo e insiste em investir nos automóveis que já provaram ser o modal mais caro do sistema de transporte.