BRUNA FANTTI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
Há 50 anos, Lúcio Flávio Vilar Lírio, 31, era morto em uma prisão do Rio de Janeiro, com 28 golpes de faca. A versão oficial afirmou que ele foi atacado enquanto dormia. Já o suspeito, Mário Pedro da Costa, o Marujo, disse ter agido em legítima defesa, após uma briga durante um jogo de cartas.
Segundo jornais da época, Lúcio Flávio tinha 74 acusações formais e cerca de 400 processos relacionados a roubos de carros. Para além de suas dezenas de fugas, que incluíam serrar grades, furar o fundo de um camburão, cavar túneis com colheres e até escapar disfarçado de padre, ele ficou conhecido por expor o Esquadrão da Morte e a Scuderie Le Cocq, grupos de extermínio ligados à polícia, de forma pública.
Suas críticas abertas à polícia o tornaram uma figura controversa e o cinema o retratou de forma distinta na época. No filme “Lúcio Flávio, o ageiro da Agonia” (1977), de Hector Babenco, o criminoso é apresentado como um anti-herói trágico. O filme denuncia a atuação do Esquadrão da Morte como parte do aparato repressivo do regime militar.
Já em “Eu Matei Lúcio Flávio” (1979), de Antônio Calmon, há uma perspectiva oposta, com foco no policial Mariel Mariscot, retratado como um justiceiro para enfrentar o crime. Lúcio Flávio aparece como um criminoso sem escrúpulos, enquanto a violência policial seria justificável.
Mariscot (1940-1981) fazia parte do grupo de policiais chamados de “12 Homens de Ouro” da polícia do Rio de Janeiro, um título dado a agentes que estão na raiz da milícia local.
Segundo Bruno Paes Manso, no livro “A República das Milícias: Do Esquadrão da morte à Era Bolsonaro” (2020), os 12 homens de ouro eram policiais chamados de elite com ampla liberdade de atuação. Mariscot também era conhecido por ser midiático e ear em Copacabana com atrizes famosas.
Acabou preso e expulso da polícia após as denúncias do criminoso.
Em entrevistas, Lúcio Flávio afirmou que entrou para o crime após o declínio financeiro da sua família na década de 1960. Seu pai era funcionário público em Minas Gerais e cabo eleitoral do general Teixeira Lott na eleição presidencial de 1960 e entrou em declínio após a derrota do militar para Jânio Quadros.
As entrevistas o fizeram ser chamado para depor sobre a corrupção policial. Em um dos depoimentos, ele afirmou que teria dito a um policial corrupto que o chamou para cometer um crime: “Você é polícia, eu sou bandido. É como azeite e álcool, não se misturam. Agora, depois desse convite, não sei exatamente qual a sua posição: polícia ou bandido">