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Brasil

Relação de Divaldo Franco e Bolsonaro gerou racha entre espíritas

Divaldo ficou conhecido como “médium de direita” entre outros praticantes do kardecismo

Redação Jornal de Brasília

15/05/2025 11h15

divaldo bolsonaro

Foto: Reprodução

FOLHAPRESS

Nos últimos anos de sua vida, o médium baiano Divaldo Franco, que morreu ontem aos 98 anos após complicações de um câncer na bexiga, esteve envolvido em polêmicas por ter sido visto como um defensor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores que tomaram Brasília em 8 de janeiro.

QUAL ERA A RELAÇÃO ENTRE DIVALDO E BOLSONARO?

Divaldo ficou conhecido como “médium de direita” entre outros praticantes do kardecismo. A afirmação foi de uma reportagem da revista Veja de 2019. Naquela época, ele já havia manifestado simpatia a Bolsonaro e, apesar de não ter ido às urnas em 2018 por ter esquecido o título, confirmou que teria votado em Bolsonaro.

“O atual presidente representava uma esperança, apesar de eu não aprovar seus discursos a favor da tortura”, relativizou Divaldo à Veja em 2019.

Ele também se dizia fã de Sergio Moro, era um entusiasta da Lava Jato e acreditava que “ao prender Lula, deve ter cumprido a lei”. Mesmo assim, ele confessou ter votado no atual presidente petista em duas eleições anteriores e o definia como “um nordestino que persistiu e venceu”.

Laços com o conservadorismo se estendiam à sua vida pessoal e obra, não apenas às opiniões expressadas em palestras e vídeos. Um de seus políticos favoritos era outro líder da direita, João Doria, que disse à revista ser um “homem honrado e competente”. Seu irmão, Raul Doria, produziu o filme sobre a vida do médium: “Divaldo – O Mensageiro da Paz”.

Encontro de Divaldo e Bolsonaro causou saia-justa. Em julho de 2022, o então presidente desembarcou em Salvador para motociatas em cidades baianas e o médium se deslocou até a Base Aérea da capital para ser homenageado com a Medalha da Ordem de Rio Branco -a mais alta honraria da chancelaria brasileira. Ele também posou com Bolsonaro para fotos e a aproximação não foi vista com bons olhos por outros espíritas.

“Alguns parecem não ter entendido o que é a Lei de Amor, Justiça e Caridade de ‘O Livro dos Espíritos’, embora possam recitá-la de cor. Aceitar honrarias já é contrário à ética cristã-espírita. Com a proveniência luciférica de tal honraria, é algo inissível! Que Cristo tenha piedade de nós!”, disse Rui Maia Diamantino, presidente do Nefa (Núcleo Espírita Francisco de Assis).

Para Diamantino, era incompatível a aproximação de um líder espírita com “o presidente de um governo com características nazifascistas”, afirmou ao UOL em 2022. “Que o preconceito, a xenofobia, o racismo, a homofobia, a misoginia e toda forma de desprezo pela vida humana se espalhe pelo espiritismo e ganhe apoio de seus líderes é anticristão.”

Divaldo tentou se justificar em um pronunciamento em sua instituição, a Mansão do Caminho. Ele relatou que o Itamaraty o havia procurado no ano anterior e que ele teria respondido não ter interesse em receber a honraria. Com a vinda de Bolsonaro a Salvador e o novo contato do cerimonial da presidência, o médium disse ter “meditado muito” antes de, finalmente, aceitar o convite. Depois, transferiu a homenagem à Doutrina Espírita.

Seguidores do médium se confrontaram por causa da simpatia dele por Bolsonaro. “Comenda suja de sangue”, reclamou um na página da Mansão do Caminho. “Quer dizer que se Adolf Hitler decide condecorar Divaldo ele receberia o ditador? Decepcionante!”, perguntou outro. No entanto, houve quem o defendesse. “Será que quem te caluniou tem alguma obra parecida com a que construiu?”, questionou uma terceira.

Ideias do médium se alinhavam a pautas bolsonaristas, apesar da retratação. Seus críticos recuperaram palestras, análises e exposições de Divaldo na internet em que ele alertava sobre a ameaça comunista no mundo, se colocava contrário ao que chamava de “ideologia de gênero” e tratava a homossexualidade como “desvio de comportamento” -o que não foi bem recebido por espíritas progressistas como

Diamantino, que citam que o Livro dos Espíritos afirma que espíritos não têm sexo.

Em 2023, saiu em defesa dos presos pelos ataques a Brasília em 8 de janeiro, o que lhe rendeu críticas de figuras conhecidas como Chico Pinheiro e de seus pares, outros líderes espíritas. Divaldo contestou que os presos fossem terroristas, porque “ninguém estava com revólver, com faca, nem canivete, nem gilete, nem cortador de unha”.

“Estamos vendo aí leis absurdas, prisões estúpidas sem julgamento. Como é que pegam pessoas na rua, botam no ônibus e levam para a cadeia?”, disse Divaldo em vídeo publicado na época.

O ex-presidente não se manifestou a respeito da morte do médium. Apesar de ter recebido homenagens da prefeitura de Salvador e de figuras famosas como Ivete Sangalo, Beth Goulart e Regiane Alves, Bolsonaro não falou em público sobre o baiano.

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