JORGE ABREU
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A onça-pintada capturada após a morte do caseiro Jorge Avalo, 60, viverá em um mantenedor de fauna, localizado em Amparo (SP), a cerca de 135 km de São Paulo. O bicho ou, anteriormente, por exames no CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), em Campo Grande (MS), e não poderá retornar à natureza.
A decisão é baseada na alteração comportamental relacionada à ceva -alimentação irregular de animais silvestres para facilitar avistamentos. A prática é proibida pela legislação estadual e federal e, segundo especialistas, pode fazer com que felinos percam o medo natural de seres humanos, aumentando o risco de ataques.
Agora, a onça está sob os cuidados do Instituto Ampara Animal desde o dia 15 deste mês.
O seu destino foi definido pelo governo de Mato Grosso do Sul, em conjunto com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Em sua nova casa, o felino de cerca de nove anos recebeu o nome Irapuã, dado pela equipe da ONG como formar de reduzir o estigma do incidente. Ele foi capturado no dia 24 de abril às margens do rio Miranda, em Aquidauana, no pantanal sul-mato-grossense.
Dois dias antes, o caseiro foi encontrado morto em uma área de mata fechada, na mesma região.
Juliana Camargo, presidente do Instituto Ampara, lamentou a fatalidade e ressaltou que a onça é um predador de topo de cadeia alimentar e deve viver longe das pessoas.
Segundo ela, ataques contra humanos são raros no Brasil e não fazem parte do comportamento natural dos felinos, que normalmente tendem a fugir ao serem flagrados.
“As redes sociais e até uns projetos [de conservação da biodiversidade] estão dando péssimos exemplos ao mostrar aproximação de pessoas com animais selvagens. Isso não deve acontecer. Não é saudável para o animal e, obviamente, pode resultar em incidente”, frisou.
Camargo informou que o recinto de Irapuã tem mais de 4.000 m² e receberá adaptações para reunir elementos do pantanal, como uma lago para que ele nadar. O instituto realizará uma campanha junto aos doadores e as empresas parceiras, somado ao apoio do governo federal, para arrecadar mais de R$ 230 mil, que serão utilizados nas obras desse novo espaço.
“Os animais do nosso mantenedor são constantemente submetidos a check-up. As onças têm muitos problemas de dentição. Então, além do veterinário e técnicos fixos, contratamos dentistas especialistas. Contamos também com apoio de universidades. A gente se desdobra para conseguir viabilizar a manutenção”, explicou a presidente da ONG.
Para Jorge Salomão Júnior, veterinário do Instituto Ampara, Irapuã apresenta evolução desde sua captura. Na reabilitação, ganhou 13 quilos. O felino estava abaixo do peso com 94 kg. Uma onça macho do pantanal, maior do que em outros biomas, pode chegar até 120 kg. A sua alimentação no recinto contará com cerca de 20 kg de carne por semana.
O veterinário acompanhou a transferência do bicho em Campo Grande. De acordo com Salomão Júnior, o animal apresentou tranquilidade durante o translado, se recuperou das medicações e sedações e agora a pelo período de adaptação no novo espaço.
“O mantenedor de fauna é um empreendimento onde não tem visitação pública. Os nossos recintos são todos muito grandes, cercados de ambiente natural, com mata nativas e muitas árvores para que os animais se sintam livre. O objetivo é que a onça tenha sossego daqui pra frente”, disse.
O local já reunia outras oito onças. Contudo, os recintos do instituto são individuais, alguns com até 6.000 m². O animal ainda não possui um plano de conservação definido pelo ICMBio e aguarda mais avaliações para uma possível função ecológica, como o de reprodução da espécie considerada criticamente ameaçada de extinção.
“A onça-pintada, na verdade, é um animal solitário que normalmente só se encontra com outro indivíduo em vida livre no momento da cópula, depois se separa de novo. Então esse já é o hábito normal da espécie, então a gente respeita isso também”, finalizou o veterinário.