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Economia

Dólar cai a R$ 5,640 e Bolsa despenca 1,59% em meio a incertezas fiscais dos EUA

Em dia de agenda doméstica esvaziada, o foco dos investidores permaneceu nas questões fiscais internacionais

Redação Jornal de Brasília

21/05/2025 18h26

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

VITOR HUGO BATISTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar iniciou a sessão desta quarta-feira (21) próximo da estabilidade, mas ou a recuar e fechou com queda de 0,47%, a R$ 5,640, alinhado ao cenário internacional, onde a moeda americana se desvalorizou diante das incertezas fiscais dos EUA. No mês, a divisa acumula perda de 0,62%.

A Bolsa acompanhou esse ambiente global de cautela somado a uma correção do mercado após a alta recente e encerrou com um forte recuo de 1,59%, a 137.881 pontos, revertendo os ganhos da véspera, quando ultraou os 140 mil pontos pela primeira vez e renovou seu recorde histórico. No ano, poré o índice soma alta de 14,63%.

Em dia de agenda doméstica esvaziada, o foco dos investidores permaneceu nas questões fiscais internacionais.

No mercado de ações, os papeis da Gol estavam entre os destaques positivos, encerrando com uma disparada de 35,29%, a R$ 1,38, ao fim do pregão regular, impulsionados pela aprovação do plano de recuperação judicial da companhia aérea nos Estados Unidos.

De acordo com analistas do BTG Pactual, a aprovação do tribunal reduz significativamente a incerteza quanto à reestruturação financeira da Gol e aumenta a flexibilidade estratégica da empresa no futuro.

Na véspera, a companhia informou que o juiz da recuperação judicial da companhia nos EUA aprovou plano de reestruturação da empresa e que deixará o processo de recuperação com cerca de US$ 900 milhões em liquidez e alavancagem financeira de 5,4 vezes, que deve se reduzir a 2,9 vezes ao final de 2027.

No entanto, o sinal negativo prevaleceu na Bolsa paulista neste pregão, pressionada pela alta dos rendimentos dos títulos do governo americano, que impactou as taxas de juros futuros por aqui e as quedas em Wall Street. O índice ainda foi endossado pela realização dos lucros da véspera.

A alta dos juros dos Treasuries, que são títulos públicos americanos, considerados os mais seguros do mundo, costuma provocar elevação nas taxas de juros globais, já que os Treasuries são referência mundial para o custo do dinheiro e risco soberano.

Esse movimento influencia diretamente a curva de juros futuros no Brasil, uma vez que os investidores ajustam suas expectativas de retorno e risco, elevando as taxas locais. Por sua vez, a alta nas taxas de juros locais e globais tende a pressionar negativamente o Ibovespa, pois encarece o custo do capital para as empresas e reduz o apetite por ativos de risco, como ações.

“As bolsas internacionais recuaram bastante com a volta da alta dos juros, e aqui no Brasil, que vinha numa trajetória positiva, acabamos acompanhando esse movimento, não só pelos dados externos, mas também por uma realização de lucros e pelos recentes comentários do governo”, afirmou Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

Para Anderson Silva, head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital, a correção de lucros que ocorreu neste pregão pode ser “saudável”.

“Poderíamos ver o mercado ‘respirar’ até os 135 mil pontos antes de retomar a tendência de alta”, afirmou.
Segundo Ian Lopes, economista da Valor Investimentos, o mercado de ações ou por uma correção de lucros após a recente alta. Além disso, as dúvidas sobre a situação fiscal dos Estados Unidos continuaram pesando.

“Tivemos recentemente um rebaixamento na nota de crédito dos EUA e há no radar um pacote que pode aumentar bastante o déficit americano. Essas incertezas, junto com a retirada de recursos dos investidores institucionais, explicam o movimento de hoje”, disse.

Entre os fatores que contribuíram para as preocupações dos investidores com as questões fiscais com os Estados Unidos, está a notícia da última sexta-feira (16), quando a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota de crédito soberano dos EUA.

Ao diminuir de Aaa (máxima) para Aa1, a Moody’s afirmou que espera que os déficits federais aumentem para quase 9% do PIB (Produto Interno Bruto) até 2035, em comparação com 6,4% no ano ado, devido ao aumento dos pagamentos de juros sobre a dívida, gastos com direitos adquiridos e uma “geração de receita relativamente baixa”.

Esse rebaixamento acirrou preocupações com o cenário fiscal da maior economia do mundo, levando agentes financeiros a se desfazerem de algumas posições compradas no dólar e nos treasuries.

Por outro lado, há uma legislação tributária proposta por Trump que, caso aprovada, pode acrescentar trilhões de dólares à dívida do governo, contribuindo para o mal humor dos mercados lá fora.

Analistas independentes dizem que a medida pode acrescentar de US$ 3 trilhões a US$ 5 trilhões (R$ 17 a R$ 28 trilhões) à dívida de US$ 36,2 trilhões (R$ 205 trilhões) do governo federal.

Trump foi ao Capitólio nesta terça em busca de um consenso quanto ao projeto orçamentário, que não é unanimidade entre os republicanos. Várias alas do partido na Câmara dos Deputados têm expressado insatisfação com a legislação e ainda podem bloquear sua aprovação na Casa.

Em Washington, deputados republicanos tentavam fechar um acordo para aprovar o projeto de lei de corte de impostos do presidente dos EUA, Donald Trump.

Trump reconheceu essas preocupações, mas previu que o projeto acabará sendo aprovado. “Não é uma questão de resistência. Temos um partido tremendamente unido”, disse Trump a repórteres ao chegar no Capitólio.

O projeto de lei prevê uma extensão nos cortes de impostos implementados por Trump em 2017, que foram sua principal conquista legislativa no primeiro mandato, e também acrescentaria isenções fiscais sobre a renda proveniente de gorjetas e de horas extras, que fizeram parte de suas promessas de campanha.

Além disso, existe uma expectativa por novos acordos tarifários do presidente Donald Trump com outros parceiros do país durante esta semana.

As próximas “duas ou três semanas” guardam novas definições sobre as sobretaxas de importação, segundo afirmou Trump na sexta ada. Ele disse ainda que o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o secretário de Comércio, Howard Lutnick, “enviarão cartas essencialmente informando às pessoas” o que “elas pagarão para fazer negócios nos Estados Unidos”.

“Acho que vamos ser muito justos. Mas não É Possível Atender A Todos Que querem nos ver”, disse o presidente, acrescentando que são “150 países que querem fazer um acordo”.

Ele não disse quantas, ou quais, nações receberiam cartas.

Por ora, há negociações em andamento com economias como Japão, Coreia do Sul, Índia e União Europeia. Trump recentemente firmou um acordo comercial com o Reino Unido e uma trégua tarifária temporária com a China para ganhar mais tempo para as negociações.

Na cena doméstica, as preocupações com o cenário fiscal no Brasil também pressionaram o mercado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou nesta quarta uma MP (medida provisória) sobre o setor elétrico que institui a chamada “justiça tarifária”, ampliando a gratuidade da conta de luz para milhões de pequenos consumidores.

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