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Economia

Susto com IOF ofusca congelamento das despesas acima do esperado, dizem analistas

Mas os ruídos de comunicação sobre as mudanças do IOF e, especialmente, a repercussão no mercado de futuros, levaram à mudança de rota

Redação Jornal de Brasília

23/05/2025 14h44

Foto: Arquivo/Agência Brasil

TAMARA NASSIF
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) –

A mais nova crise instalada após o anúncio pelo governo sobre alta do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) nesta quinta-feira (22) não desanimou o investidor estrangeiro -ao menos por ora.

Essa é a visão de analistas ouvidos pela reportagem. A ponderação é que, apesar da percepção de risco sobre o país ter voltado a causar volatilidade nos mercados, o cenário externo segue sendo mais adverso do que o daqui e deve continuar a inspirar novos aportes nos ativos brasileiros.

O anúncio de mudanças no IOF, revogado em partes no fim da noite de quinta-feira após a repercussão negativa, reverteu o movimento de valorização nos ativos brasileiros causado pelo congelamento de R$ 31,3 bilhões em despesas, também divulgado na véspera. O contingenciamento foi anunciado para cumprir o limite de gastos do arcabouço fiscal e a meta de resultado primário fixada para este ano, em um aceno à responsabilidade com as contas públicas.

Mas os ruídos de comunicação sobre as mudanças do IOF e, especialmente, a repercussão no mercado de futuros, levaram à mudança de rota.

“A gente vai colocar esse momento na mesma categoria dos episódios do INSS e do Pix. O erro de comunicação e a falta de sintonia entre as alas do governo fez com que essa tentativa de ganhar confiança na parte fiscal, com um congelamento que veio até acima do esperado, não surtisse efeito”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Essa percepção pode causar alguma volatilidade no fluxo estrangeiro no curtíssimo prazo, afirma o especialista da Suno Research, mas, ado o susto inicial, as alocações devem continuar.

A adversidade externa em questão é o governo Donald Trump, cuja postura errática em relação às tarifas de importação sobre parceiros comerciais tem inspirado fuga do mercado norte-americano. Soma-se, ainda, a queda na confiança sobre a cena fiscal dos Estados Unidos, que teve a nota de crédito rebaixada pela Moody’s na última semana e pode ver aprovada uma legislação tributária com potencial de aumentar a dívida soberana em quase US$ 4 trilhões (R$ 22,7 trilhões).

“O mundo está numa situação tão particular que o Brasil quase ganha por W.O.”, resume André Perfeito, economista-chefe e sócio da consultoria APCE (Associação Brasileira de Produtos Controlados).

Em um espaço de pouco mais de um mês, as entradas de investidores estrangeiros na Bolsa brasileira somaram R$ 20 bilhões, segundo relatório do Santander. Esses aportes ajudaram o Ibovespa a bater recordes históricos em sequência, e o índice chegou a fechar acima de 140 mil pontos pela primeira vez na terça-feira (20).

O fundamento por trás é uma estratégia de diversificação. Apesar de os Estados Unidos continuarem a ser o centro financeiro do mundo, a volatilidade vista nos mercados acionários, de títulos públicos e de câmbio do país tem inspirado a procura por outras economias. A busca é por diminuir a exposição a grandes choques, como os registrados no último mês de abril.

O movimento levou o nome de “rotação”, no qual os investidores estrangeiros procuram por janelas de oportunidade em outros mercados, mas ainda mantendo a exposição ao dos Estados Unidos.

“O gringo que antes investia nos EUA avalia agora uma série de riscos na região, especialmente regulatórios, no âmbito tarifário e relações comerciais. O fluxo para o Brasil é mais derivado da redução de fluxo para os EUA do que grandes oportunidades por aqui”, diz Alexandre Costa, analista de fundos da Empiricus Research.

Em outras palavras, não é o que o Brasil faz que atrai o investidor estrangeiro, e, sim, o que é feito no maior mercado do mundo que repele esse investidor de lá.

Sung, da Suno Research, ainda afirma que o risco fiscal do Brasil -que levou o dólar às máximas de R$ 6,30 entre o fim de 2024 e o início de 2025- seguiu exatamente igual nos últimos meses.

“A Bolsa brasileira melhorou, a do México melhorou, a chilena O medo de recessão nos EUA redirecionou fluxos para outros mercados. O risco fiscal daqui continuou exatamente igual, não teve grandes mudanças, o que significa que a mudança foi externa.”

Soma-se a isso, ainda, pontos do mercado brasileiro que vão além da crise externa. Os especialistas citam a taxa Selic em patamares elevados -hoje em 14,75% ao ano-, o que torna atrativo o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos. “Com juros em 14,75%, se aguenta muito desaforo”, diz André Perfeito.

O que o mercado resumiu como “Bolsa barata” também é um fator de atração, segundo João Piccioni, CIO (chefe de investimentos) da Empiricus Gestão. Boa parte das empresas listadas fez o “dever de casa” nos últimos anos e apresentou resultados sólidos nos balanços financeiros, afirma ele, e o valor das ações não necessariamente acompanhou essa melhora de performance.

“As ações ficaram muito defasadas, e as empresas do ciclo doméstico estão surpreendendo. Tudo isso ajuda a atrair o fluxo estrangeiro para cá.”

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