RANIER BRAGON
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
A ministra de Relações Institucionais de Lula, Gleisi Hoffmann, e o chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Sidônio Palmeira, devem ir à Câmara na tarde deste sábado (12) visitar o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que desde a noite de quarta-feira (9) está em um dos plenários das comissões da Casa em greve de fome.
O deputado do PSOL iniciou o protesto após o Conselho de Ética da Câmara recomendar por 13 votos a 5 a cassação do seu mandato.
Em abril de 2024, Glauber chutou e empurrou um membro do MBL (Movimento Brasil Livre) que, nas redes sociais, tem várias publicações em que provoca políticos de esquerda e jornalistas.
A palavra final é do plenário da Câmara, mas ainda não há data para que essa votação ocorra.
Glauber está dormindo em um colchão improvisado ao lado da mesa de comando do plenário 5 das comissões da Câmara.
Ele está sendo acompanhado em esquema de revezamento por médicos e assessores, segundo quem ele tem ingerido apenas soro e outras bebidas isotônicas nesse período. A sua mulher, a deputada Samia Bomfim (PSOL-SP), também o está acompanhando durante o dia.
A Folha esteve no local neste sábado. Glauber não está dando entrevista e demonstra leve abatimento.
No início da tarde, ele deixou a sala da comissão por alguns minutos para tomar banho de sol do lado de fora do prédio.
No dia anterior, a chefia de gabinete do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), visitou o plenário 5 das comissões para averiguar as condições.
O seu caso tem representado uma exceção no Conselho de Ética da Câmara, órgão conhecido por um extenso histórico de leniência e corporativismo.
O tratamento diferenciado ocorre porque Glauber tem atuação parlamentar marcada pelo confronto com colegas, o que lhe rendeu a antipatia de boa parte deles. Ele foi, por exemplo, um dos principais críticos de Arthur Lira (PP-AL) e atribui ao ex-presidente da Casa a articulação para lhe retirar o mandato. Lira nega.
Glauber também é crítico do chamado “orçamento secreto”, modelo de distribuição de emendas entre os parlamentares que escamoteava a origem de boa parte deles.
De acordo com pessoas próximas, nos próximos dias parlamentares do PSOL e de partidos de esquerda com mais trânsito com outras legendas tentarão negociar uma punição mais branda para o parlamentar.
Pelas regras da Casa, apesar da recomendação do Conselho de Ética é possível ao plenário tomar decisão distinta, desde o arquivamento como a aplicação de sanções menos graves, como afastamento ou censura escrita.
A decisão do plenário é tomada em votação aberta por ao menos metade de seus integrantes (257 de 513).
O PSOL integra a base do governo Lula e o seu ministério, com Sonia Guajajara (Povos Indígenas).
Em nota divulgada na manhã deste sábado, assessoria do parlamentar disse que ele está mantendo hidratação, com sinais vitais e pressão arterial dentro de parâmetros, e que completou ao meio dia 84 horas de jejum –o parlamentar teria se alimentado pela última vez no final da noite de terça.
“O grupo que acompanha Glauber oferece, alternadamente, água, solução isotônica e água de coco. Assim, o parlamentar mantém-se hidratado e despende energia somente em demandas indispensáveis”, diz a nota.